Amigdalectomia é arriscado?

Neste último mês ouvi muito se falar que “amigdalectomia é uma cirurgia arriscada”, que “pode sangrar muito”, que “fulano morreu” após a cirurgia.
Infelizmente, há pouco tempo foi registrado um caso de óbito desencadeado por complicações desta cirurgia, que nos comoveu muito e motivou muitas perguntas por parte dos pacientes. Inclusive gravei um vídeo no stories, mas decidi deixar aqui também no feed a respostas para as principais perguntas.  Vamos lá?
Amigdalectomia

A pessoa pode morrer em decorrência de complicações de uma cirurgia das amigdalas???

R.:  PODE! Porém, a taxa de mortalidade geral é de 1:55.000 em cirurgias pediátricas e de 1:20.000 realizadas em adultos. Alguns estudos já encontraram 7 óbitos para cada 100.000 cirurgias. Ou seja, é raro, e pode-se afirmar que esta taxa é ainda mais baixa em crianças sem outras doenças associadas (hígidos).

É comum ter sangramentos em casa após a cirurgia???

R.: NÃO! A taxa global de sangramentos na garganta operada após as primeiras 24-48 horas varia na literatura, mas gira na casa dos 2% (aproximadamente 2 pacientes a cada 100 operados) e também encontramos alguns estudos que evidenciam que esta taxa é menor em crianças que em adultos e quando se utiliza técnicas “frias” (sem dissecção por eletrocautério ou outros aparatos que cauterizem).
Especificando mais, a taxa de sangramentos substanciais (que exigem transfusão de sangue) está na casa de 0,08% (ou seja, 8 para cada 10.000 cirurgias).

Posso precisar voltar para a sala de cirurgia para reoperar ou controlar alguma complicação?

R.: Sim. Aproximadamente 0,5% dos pacientes operados vão precisar voltar ao centro cirúrgico por conta de um sangramento que não passa ou alguma outra situação.
Vamos ilustrar a realidade: por volta de 2 a cada 100 pacientes têm sangramento e apenas 0,5% dos operados precisam retornar ao centro cirúrgico, fica claro que em aproximadamente 3 a cada 4 pacientes que tem sangramento este se resolve apenas com medidas clínicas (sem ter que voltar ao centro cirúrgico)!

Considerações finais sobre Amigdalectomia:

Realizamos esta cirurgia (remoção das amigdalas) há mais de 10 anos e fui rever nossas estatísticas DESTA CIRURGIA ISOLADAMENTE esta semana. Na prática, talvez por ter um perfil de pacientes mais hígidos, pais bem orientados, e por utilizar a técnica cirúrgica fria clássica, com dissecção e suturas tradicionais neste caso, temos taxas de sangramento algo menores que as reportadas na literatura (difíceis de precisar porque quando ocorrem costumam parar por si só ) mas apurei uma taxa de reoperação por sangramento de 0,2% (1 para cada 500 casos operados precisaram retornar para o centro cirúrgico por conta de sangramento refratário). Nunca tivemos sangramentos com indicação de transfusão sanguínea ou (felizmente) muito menos óbitos (mas, claro, ainda não operei 20.000 amigdalas!).
Referências:
Johnson RF, Mitchell RB. Mortality Risk After Pediatric Tonsillectomy. JAMA. 2022 Jun 21;327(23):2292-2293
Kirkham EM, Baldassari CM. Mortality After Pediatric Tonsillectomy—Does the “D” Word Have a Place in Tonsillectomy Discussions? JAMA Otolaryngol Head Neck Surg. Published online June 21, 2022.
Chen MM, Roman SA, Sosa JA, Judson BL. Safety of Adult Tonsillectomy: A Population-Level Analysis of 5968 Patients. JAMA Otolaryngol Head Neck Surg. 2014;140(3):197–202.
Perfil do otorrino em Copacabana dr. Édio Cavallaro médico otorrinolaringologista rio de janeiro RJ

Dr. Édio Cavallaro

Graduado em Medicina pela Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF-MG

Especialista em Otorrinolaringologia (Residência Médica)  pela Universidade Federal do Rio de Janeiro  – HUCFF – UFRJ

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